Izabella Pavesi

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Textos


Ah! o mês de dezembro!

          Lambo as bordas da taça de um delicioso capuccino que acabei de sorver, enquanto toca no celular a maravilhosa música de Mercedes Sosa: “Gracias alla Vita” (no meu auricular). Estou numa cafeteria (me postei numa vitrine), cheia de gente, um burburinho intenso e contínuo. Vejo os passantes apressados cheios de sacolas – especialmente as mulheres. É início da temporada de verão, veio o décimo terceiro salário, todos querem gastá-lo, é fim de ano e as formaturas acontecem aqui e ali, é o advento, época de preparativos natalinos e todos querem se arrumar para a festa; é hora de se exercitar e ficar em forma, sim, porque muitas só agora enxergaram os indesejáveis pneuzinhos, e os homens querem beber a nova cerveja que chegou justo agora no mercado público, lá no Box 32. A ponte, que os de lá tem que atravessar está com tráfico lento, carros e mais carros não conseguem chegar na ilha... como todos os meses de dezembro, o trânsito é infernal!... Tudo ao mesmo tempo agora!...
          Durante o dia, o espetáculo do sol nem foi percebido por milhares de olhos apressados e curiosos vislumbrando vitrines e vitrines e mais vitrines. Na entrada do prédio esbarrei com gentes e sacolas e caixas, todos de semblantes ávidos e ansiosos. Que infinidade de quereres! Me assombra o furdunço desses trinta e um dias... Como se tudo fosse possível fazer, comprar, ajustar e arrumar em dezembro. Essa era dos celulares 5G, dos softwares velossíssimos, reimplantou o super mega absurdo “egocentrismo”... aquele que Freud analisou exaustivamente.
          Minha amiga dentista merece um abraço, e então fui lhe entregar uma lembrancinha de natal. Eis que abro alas entre uma dezena de pessoas espremidas na sala de espera. “Essas pessoas querem arrumar os dentes agora, já avisei que não posso atendê-las, mas elas veem...”. É inacreditável! Como podem essas gentes não entenderem que no mês de dezembro não dá de consertar o que poderia ser feito durante todo o ano. - Há 38 anos que sou dentista e não me acostumo a essa correria deste difícil mês de dezembro! - ela me diz. E me despeço.
          Os carros estão quase parados. Pela rua abafada e quente procurei um táxi. Não achei! Fui caminhando até o outro lado da avenida e cheguei ao mesmo tempo que uma jovem esbelta e linda. Ela entrou e me convidou a dividi-lo. E, como não apareceu outro, aceitei. Foi o melhor a fazer, pois nessa época, meu caro leitor, se você quiser pegar táxi em Floripa, espere, espere mais um pouco e... talvez você tenha sorte. Fomos para a Beiramar norte. A moça, de vestidinho simples, era modelo internacional que morou na Itália e veio até essa ilha para uma pequena cirurgia plástica. Sim, essa cidade tem grandes cirurgiões plásticos. Mas, justo no mês de dezembro?! Discursamos sobre o absurdo de não termos um transporte marítimo que atravesse esse mar, do continente até o trapiche do lado de cá. Pode isso?! Uma ilha de sol e mar tem que ter um barco, um “ferry-boat” ou uma balsa pra nos locomovermos. Enfim, foi muito legal encontrar gente que conhece o mundo e vem aportar por estas bandas aqui. “Eu admiro viu, eu admiro muito quem divide táxi com a gente!” – lhe disse. Rimos... e desci.
          O chuveiro decidiu estragar justo este mês! Poxa vida! Que chateação... Fiquei indignada! Não teve jeito, fui atrás de um eletricista. Vamos lá... seja positiva, seja bem-humorada, seja paciente! Ele está muito ocupado, mas arranjou um tempinho, virá antes do natal. Enquanto isso... vou tomando banho frio. Faz bem para os nervos. Dá um alívio a esses dias turbulentos.
          As lojas continuam com suas promoções de natal e eu tenho que comprar mais uns presentinhos. Um saco de paciência será necessário... as atendentes estão exaustas, os clientes chegaram em bandos, todos precisam presentear. Oras, já se viu um natal sem presentes?! E olho e pesquiso e investigo, onde comprar bem e barato? É tempo de ficar alerta, pois também os batedores de carteira estão na área. E, faltam os ingredientes do jantar... lá vou eu pro supermercado. Os produtos me acenam... caros e apelativos. Quantos gastos!
          Você deve estar me perguntado por que é que eu – uma escritora dedicada - não estou lá na Feira do Livro que foi montada numa grande tenda (um forno!) perto da Alfândega?! Então... vou ver se acho um tempinho no ano que vem, está bem?!

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Izabella Pavesi
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                                             imagem: internet

 
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 20/12/2017


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