"Pensar é transgredir"
Autora: Lya Luft
Ano: 2004
Teço uma simples resenha sobre a grande dama das letras: Lya Luft. No livro de crônicas "Pensar é transgredir", Lya se supera, apresentando textos refinados cheios de emoção, vivências e interessantes situações. São crônicas bastante sintéticas, em sua maioria, e de linguagem clara de mulher perspicaz.
Pérolas de sentimentos, assim: "apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência"; ou "a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós"; ou, ainda "Eu, por profissão, cavo palavras nas minas do silêncio!"
Nossa mestra esmiúça os cantinhos de nosso ego, do nosso EU: "Há os que, quando podem, pegam as delícias da vida e assim se salvam da areia movediça da depressão". No texto "A velhinha no saguão", estremece, como eu, com a ausência de compaixão que assola os dias de hoje, o abandono de nossos velhinhos à própria sorte. Fala de si, de suas origens, de nossa miscigenação, de nosso povo multirracial na crônica "Nós, os brasileiros". Aí, nos diz: "E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias interiores de meus personagens neuróticos, me senti tão deslocada quanto um macaco em uma loja de cristais"; e, também: "Rótulos são imprecisos e empobrecedores, mas o que se há de fazer".
Sabe aquele ser em estátua na praça num sábado de feira? Assim, lembrou-me vagamente, Lya (em movimento, no ato final do espetáculo): testemunhando tudo, enxergando além das vestes, das faces, das peles e das mentes.
Uma surpreendente visão do amor em "Uma flor selvagem" , onde ela descreve o amor como uma escultura que se faz sozinha na floresta das mil seduções. Alguns textos são cobertos de ternura, como: "O menino e sua mãe", "O tassivelo" e "Mais infância", onde se confirma sua amplitude de entendimento do ser humano em todas as suas fases.
Amei: "Canção dos homens", "Pode tudo", "Revogue-se" e " Teorias da Alma".
Porém, em "Subir pelo lado que desce", a autora fala em "buracos na alma",... Penso que são apenas pontos enevoados, cara escritora. Temos pontinhos nos "nichos da alma", onde repousa nosso tesouro; às vezes, alma turbulenta, outras vezes, sob camadas de poeira, mas, definitivamente, brilhante!