Autor: Alessandro Baricco
Livro: "SEDA"
Ano: 2007
O autor italiano, nascido em Turim, em 1958, premiado por seus belos trabalhos literários, nos apresenta este romance surpreendente: Seda. Seu texto é seco, absolutamente enxuto, e de um lirismo encantador. Bem escrito, sem rodeios. Seu estilo é muito único, um universo de poucas palavras. Denso, e ao mesmo tempo, leve como a seda.
Ele narra a história de Hervé Joncour, um francês, que parte para o Japão em busca de bichos-da-seda, por contrabando, pois àquela época, 1861, esse comércio era proibido. Ele se desloca de uma pequena cidade da França até o Japão, à procura dos bichinhos, pois devido uma praga, eles sumiram do Ocidente. As imagens que ele constrói são perturbadoras, tão fortes quanto o choque cultural. E escancara o submundo do contrabando da época, sobretudo, bichos-da-seda e armas. Hervé empreendeu quatro viagens ao Japão, mesmo trajeto, mesmo destino, mesmo retorno. Percorreu a cavalo extensos territórios, dois mil kilometros de estepe russa, entrando na Sibéria, e alcançando o Japão pelo cabo Teraya. Um navio de contrabandistas o atravessava da China ao Japão e vice-versa. Tudo pago a peso de ouro. Era um mundo distante demais, e onde a estranheza se misturava ao fascínio e à paixão.
- "e onde se localiza, precisamente, esse Japão?
Baldabiou ergueu o bastão de bambu, apontando-o para lá dos telhados de Saint-August.
- Sempre naquela direção.
Disse.
- Até o fim do mundo". (pg.20)
A cena do primeiro encontro com o poderoso Hara Kei é tão bárbara, que se recorda dela por um longo tempo: "Hara Kei estava sentado no chão,... Único sinal visível de seu poder, uma mulher estendida ao lado dele, imóvel, a cabeça apoiada em seu colo, olhos fechados,... Ele passava lentamente uma das mãos nos cabelos dela: parecia acariciar o pêlo de um animal precioso, e adormecido".
A narrativa se sucede entremeada de longos silêncios, pausas e frases assertivas. Pérolas de lirismo, como "A última coisa que viu, antes de sair, foram os olhos dela fixos nos seus, perfeitamente mudos" ; ou "Na transparência, as pegadas dos minúsculos pássaros falavam com voz desfocada".
Muitos fatos ocorridos nessa busca pelos bichos-da-seda foram chocantes para Hervé, e nos mostram sua perplexidade de homem ocidental:
"Hervé Joncour ficou imóvel, olhando para aquele enorme braseiro apagado.
Tinha atrás de si uma longa estrada de oito mil kilometros. E diante de si o nada. De repente viu aquilo que julgava invisível.
O fim do mundo. (pg.83)
Um livro cativante. Um autor inspirado, com suas belas metáforas: "Chegavam do salão as notas de um piano cansado: dissolviam o tempo, tornando-o quase irreconhecível".
No capítulo 32, uma explosão de beleza em lúdica cena:
... Assim viu,
no final,
de repente,
o céu sobre a residência se manchar com o vôo de centenas de pássaros, como que expulsos da terra, pássaros de todo tipo, atônitos, fugindo para todos os lados, enlouquecidos, cantando e gritando, explosão pirotécnica de asas, em nuvens de cores e sons, amedrontados, música em fuga, no céu a voar.
Hervé Joncour sorriu.
out/2008
Izabella Pavesi