ASSOBIO DOS VENTOS
Um ventão uiva na janela,
Perpassa as fendas... Carrega as folhas, Assobia e arrepia. Levanta a sombrinha e as saias. Encrespa as águas do lago, Deslizam galhos ladeira abaixo... Meus pés que nada os esquenta, Sentem o gelo que chegou à terra. Uma brisa me avisa: lá fora, zero grau. No frio chão de pedra, Seu Zé pôs sua cama: Cobertor, gorro e meias e, Claro!...papelão! Um monte de jornais o encobre, E a pinga o deixa aquecido. Um pedaço de lã, ele juntou, Uma lata de moedinhas e Um pires com farinha... Sem saber se os seus um dia o acharão. Um açoite corta o ar... Vergam-se os bambus. Temo que tudo se estilhace. Meu ser se inquieta... Me encho de letrinhas e livros. Vou até a avenida e volto. A garoa me desencoraja... Me aqueço com chás e bules de café, Faço uma sopa quente de cebola e alho E, enroscada em echarpes me encolho no sofá. Renovo o apelo, Tiritando ao vento, Vamos pro abrigo, seu Zé? Lá dentro, tem pão quentinho, Janelas, teto e umas luzinhas. Também tem seus companheiros, Dos túneis, das avenidas, Dos canteiros, das calçadas. Dona, deixa eu com os meus trecos, Madama,...lá não tem pinga, não! _______________________________________________ Poesia dedicada a um pobre mendigo - excerto do romance 'O Último Gerente' - lançado em 2004.
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 19/07/2006
Alterado em 13/01/2010 |