DIAS DE INÉRCIA
É domingo de outono...
Chove chuvinha miúda, Na janela embaçada, Que a menina bafora, E, alegre, desenha uma tela Com seus pequenos dedinhos, Pássaros, pipas e corações. Preciso espairecer... Esvaziar a mente turva, Em meio ao torvelinho Das folhas em redemoinho... Viverei um dia de cada vez, Lutarei pro pão de hoje, Amanhã já é outro dia... Penso a filosofia indígena, Nossos sábios ancestrais. Interiorizá-la em mim, Pra que acumular riquezas? Tudo tirar à exaustão Do solo fértil, deixá-lo estéril, Tão somente pra si? Ah! Ser livre!... Tecer o desapego Dos apelos consumistas, Da mídia invasiva, Apenas se deixar ficar... Assim como um rio, que Suave, caudaloso, vai... Dançar à luz da lua, Deleitar-se enfeitiçada, Pintar o corpo nu, Colorida e alegremente, O sorriso eternizado, Banhar-se em verdes mares, Plena de contentamento e paz. Reteso em mim Este imenso desejo De ser apenas vivente, Sem nada ser de repente, Mais que uma índia faceira, De cocar e penas e Colar de sementes de açaí. Rio com as gotas que escorrem Na vidraça verde da alegre sala, Sabiás encolhidinhos em seus ninhos, Rolinhas cheias de liberdade. Orvalhos, gotinhas, aqui e ali, Vão caindo até o chão, Esparramando-se pelo vão... _________________________________________________________ Poesia publicada na Coleção 'Prosa e Verso', vol.4 - Palavras Azuis - uma bela Antologia -lançado em dez/2005.
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 23/07/2006
Alterado em 13/01/2010 |