Izabella Pavesi

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Textos

LAURENTINO GOMES - "1808"


       Um livro espetacular!... São 367 páginas de informações valiosas descritas com maestria sobre os acontecimentos de 1808. A vinda da família real portuguesa ao Brasil, os acontecimentos anteriores que levaram a este fato, as guerras napoleônicas e todo o desenrolar da história nos séculos XVIII e XIX.
Dividido em 29 capítulos onde despontam a sabedoria e a sagacidade do autor, que pesquisou dados em Portugal, nos Estados Unidos, na Inglaterra e nos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Um super esforço pra nos brindar com este compêndio indispensável em qualquer biblioteca brasileira.
        A princípio, apresenta-nos um cronograma dos principais acontecimentos desde 1789 até 1822. No primeiro capítulo, que trata da fuga da corte, Laurentino nos dá a noção do quanto aquele país ficou desamparado sem seu Rei, numa época que “ainda não existia em Portugal a ideia de que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido” (p32). Pois, sem o rei Portugal passava a ser um território sem identidade e seus habitantes entregues à cobiça dos forasteiros e de qualquer aventureiro que tivesse a coragem de invadi-lo e assumir o trono.
Para compreensão desse episódio, temos que relembrar a França do séc.XVIII : A Revolução Francesa de 1789 com os ideais de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” em pouco tempo cairia por terra,  anos depois surgiria Napoleão Bonaparte! Este foi tomando o poder, invadindo e se apropriando de grandes territórios, e claro, Portugal estava na mira. D. João VI era indeciso e medroso, e só por grande pressão dos franceses (e também dos ingleses), acabou aceitando mudar-se para a Colônia Brasil. Os grandes feitos dos navegadores portugueses que descobriram o caminho para as Índias, além do nosso país, já tinham sumido na fumaça do tempo, e o país se espreguiçava sobre seus feitos dos séculos passados. Não havia mais a coragem empreendedora da época das grandes navegações.
Lisboa funcionava apenas como um entreposto comercial. De lá, o ouro, a madeira e os produtos agrícolas do Brasil seguiam direto para a Inglaterra, principal parceira comercial de Portugal. Os diamantes tinham como destino Amsterdã e Antuérpia, nos Países Baixos.” (p55)
        A fuga da família real de Lisboa foi tumultuada e às pressas. O povo, incrédulo, assistiu a tudo. Quarenta e quatro naus vieram com o Rei, a rainha, filhos e toda a elite portuguesa, todos escoltados por uma frota inglesa de dezesseis navios de guerra. Espalhadas pelo cais do porto de Lisboa se perderam centenas de bagagens, incluindo caixas com os livros da Biblioteca Real que só puderam chegar aqui em 1811. O desconforto dos navios a vela era incomensurável, e todos os relatos dão conta das atribulações a bordo. Referindo-se a linha do Equador, o autor escreve: “Imagine-se o tormento das centenas de passageiros que apinhavam o convés dos navios: dez dias sob o sol equatorial, onde as temperaturas em dezembro chegam a 35 graus centígrados, sem o sopro de uma mísera brisa para aliviar-lhes o sofrimento” (p93).
Gomes sabiamente nos revela textos das cartas de viajantes, do diário de bordo dos navios, as cartas pessoais do arquivista real que dão uma ideia detalhada do que se passava na ocasião, e textos de outras pessoas que vivenciaram o desenrolar da história. O livro também nos apresenta belas ilustrações daquela época, pinturas de Debret, Domingos A.Sequeira, Chamberlain e outros.
        As transformações do país colônia em Nação forte unificando as Capitanias Hereditárias, trazendo Escolas e mestres importantes da Europa, o incremento na produção mercantil, a abertura dos portos aos navios ingleses, muitas foram as vantagens de toda essa empreitada que a Família Real realizou, a despeito do esvaziamento dos cofres brasileiros desde então.
Capítulos importantes: o desprezo que a Princesa Carlota Joaquina tinha pelo nosso país; o poderio da frota naval britânica, a Senhora dos Mares, no século XVIII; a Escravidão, a mais terrível página da humanidade iniciada já muito antes da vinda de D.João; o cotidiano da vida no Rio de Janeiro de 1808 até 1822; o Arquivista Real que trouxe e cuidou da coleção de livros que ilustram a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; e tantas outras informações da formação da sociedade brasileira e o desenrolar dos acontecimentos até 1822.


Laurentino Gomes – 1808. Editora Planeta do Brasil, São Paulo/SP, 2007. 2.edição.

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Izabella Pavesi
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 14/03/2013
Alterado em 14/03/2013


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