MAESTRO JOSÉ NILO VALLE -
Grande personalidade catarinense “A maior glória de um homem é poder contribuir para a sociedade com aquilo que ele é mais capaz”.
(José Nilo Valle) Ser Maestro de uma Orquestra Sinfônica certamente é para poucos. A necessidade de comandar um grupo de músicos de diversos naipes requer muito mais que um simples estudo da Arte da Regência Musical. É preciso discernimento, extrema habilidade com os sons musicais, ouvidos absolutamente atentos, um espírito musical, uma sagacidade mental, o conhecimento de vários espetáculos operísticos, além de uma orquestra habilidosa e que aceite ser orientada por tal mentor. O caro Maestro e confrade das Letras e das Artes José Nilo Valle é descendente do imigrante trentino Giovanni Dominico Valle, que nasceu na comuna italiana de Besenello, Trento, em 23 de junho de 1850. Ele emigrou para a América do Sul em 11 de novembro de 1875 e estabeleceu-se em Nova Trento, onde recebeu terras do governo brasileiro para seu assentamento. Já na vila de sua nova pátria casou-se com Angela Sgrot (27 de fevereiro de 1876) e tiveram cinco filhos: João, Francisco, José, Augusta e Albertina. (Giovanni Dominico faleceu em Nova Trento em 1907). Destes filhos, destacamos José Valle (avô do maestro José Nilo) que nasceu em Nova Trento, no dia 25 de março de 1878, e cujo matrimônio com Angela Daros foi celebrado em 27 de setembro de 1900. O casal teve doze filhos: Marçal, Mário, Antônio, Inácio, Valdir, Felinto, Braulia, Inês, Luiza, Tereza, Mariquinha e Loyola. Durante sua vida, José Valle exerceu o cargo de 1º Oficial do Registro Civil da vila de Nova Trento, onde faleceu no dia 02 de junho de 1948. Marçal Valle, filho de José Valle e Angela Daros, nasceu em Nova Trento, no dia 13 de agosto de 1906. Casou-se com Alzira Maria Busnardo e teve dez filhos, entre eles o Maestro José Nilo Valle. Os filhos, pela ordem de nascimento: Celso Luiz, Wilson José, Walmir Alberto, Edviges Matilde, Isaias Marçal, José Nilo, Maria Aparecida, Luiz Elias, Lúcia Helena e Angela Maria. Marçal Valle foi músico, jogador de futebol e fabricante de calçados. Faleceu em Nova Trento, no dia 27 de abril de 1960. Sem sombra de dúvida, o Maestro José Nilo merece muitos aplausos por sua brilhante trajetória. Regente, compositor e instrumentista brasileiro, nascido em Nova Trento (S.C.), desenvolveu estudos básicos sobre música e elementos técnicos instrumentais em sua terra natal, continuando os mesmos no Colégio Santo Inácio (RS). Objetivando aprofundar-se em execução instrumental, composição e regência, adentrou no campo superior da música cursando a Faculdade de Educação Musical do Paraná e a Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de cujos estudos resultaram os diplomas de Licenciatura Plena em Música, Licenciatura em Educação Artística e os bacharelatos em Composição e Regência de Orquestra e Ópera. O caro Maestro foi premiado pelo Governo Federal Brasileiro (MEC/CAPES) e pelo Governo do Estado de Santa Catarina com uma bolsa de estudos para realizar cursos de pós-graduação nos Estados Unidos, em 1987, quando então, ingressou na Universidade de Washington, onde conquistou brilhantemente os graus de Mestrado (Master of Music) e de Doutorado (Doctor of Musical Arts). Nos Estados Unidos, entre outras atividades exercidas no campo da música, regeu a U. W. Symphony Orchestra, a Northwest Symphony Orchestra e atuou nas produções de ópera da Washington University como maestro convidado do renomado regente húngaro Peter Erös. Participou do estagio Ballet Conducting no Seattle Symphony Hall (Guest Conductor of London Royal Opera). Foi ainda fundador e regente dos organismos Camerata Symphony Orchestra e PROCONART Ensemble (Conjunto de Câmara Pró-Arte-Contemporânea), através dos quais realizou performances de concerto e fez primeiras audições de obras americanas do repertório contemporâneo, no Brechemin Auditorium da Washington University, USA. Ao longo de sua carreira, desenvolveu experiência no campo operístico, através de sua atuação como maestro adjunto das produções de ópera da Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro (1979-1982), bem como do Opera Production Department da University of Washington (1989-1991). Cosi fan tutte e Die Entfhürung aus dem Serail de Mozart, La Traviata e Rigoletto de Verdi, La Bohème e Madama Butterfly de Puccini, A Post Card from Morroco de Dominik Argento e Vanessa de Samuel Barber são algumas obras do gênero lírico que tiveram sua participação on stage. Ainda, orquestrou sob encomenda as óperas La Falce de Catalani e Il Maestro di Cappella de Ferdinand Päer, as quais foram encenadas no Salão Leopoldo Miguez da Escola Nacional de Música, Rio de Janeiro. De volta ao Brasil, em 1992, criou a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA), atuando, desde aquela data até o presente, como seu diretor artístico e regente. À frente da orquestra tem programado e executado expressivas e exitosas temporadas anuais de concertos. Desde o início, e paralelamente à direção da orquestra, uma de suas principais metas tem sido a busca de recursos humanos ideais para comporem e nivelarem o quadro orquestral, uma vez que enormes lacunas foram constatadas quando da primeira audição de músicos em março de 1993. Neste sentido, vem criando projetos direcionados à formação de músicos para alimentarem os naipes orquestrais mais carentes, programando inúmeros workshops de desenvolvimento técnico instrumental e fomentando o aparecimento dos mais variados grupos de câmara. A preocupação do Maestro com o baixo nível musical e a falta de músicos de orquestra em Santa Catarina, fez com que ele criasse em 1998, o projeto “Municipalização da Cultura Musical Catarinense”, o qual recebeu apoio do Governo do Estado, e, desde o ano 2.000, tem viabilizado espetáculos populares da orquestra em mais de uma centena de municípios catarinenses, em brilhantes apresentações. Projeto musical pioneiro em Santa Catarina, o “Mucumuca” adaptado como “Recumuca” em 2003 (Regionalização da Cultura Musical Catarinense) e integrado ao Circuito Catarinense de Orquestras em 2008, tem alcançado estupendos desdobramentos na expansão da música em Santa Catarina. Muitos dos municípios agraciados com as performances, jamais tinham tido a oportunidade de ouvir uma sinfônica ao vivo. O projeto tem aberto novas e amplas perspectivas musicais a nível estadual, promovendo, inclusive, a implantação de novas cameratas, orquestras, escolas de música e casas de espetáculo em várias regiões catarinenses. Maestro Valle é também autor de grande número de obras musicais e ensaios técnicos e teóricos sobre música. Seu livro Linguagem e Estruturação Musical tem sido usado como referência bibliográfica em algumas instituições de ensino musical no Brasil. Algumas de suas obras para piano têm sido editadas pela “Irmãos Vitale Brasileira”. Compôs arranjos musicais para orquestra sobre quase uma centena de hinos de municípios catarinenses. É autor dos hinos oficiais de Guabiruba e São Bonifácio (SC) e Promissão (SP). A convite da ABI (American Biographical Institute), teve seu nome incluído nos volumes 5.000 Outstanding Musicians of The Twentieth Century (EUA) e na enciclopédia britânica Who is Who in Music, da Cambridge University of London. Dezenas de municípios de todas as regiões do Estado e milhares de catarinenses têm rendido sua homenagem à figura do maestro pela sua importância no desenvolvimento musical do Estado. Das premiações por sua atuação em favor da música universal, podemos destacar: - Título de “Cidadão Honorário de Guabiruba”; - Troféu “Bruschi Saluta”; - Troféu 111 Anos de Emancipação Política de Nova Trento; - Diploma Honra ao Mérito (Câmara de Vereadores de Florianópolis; - Diploma Honra ao Mérito (Assembleia Legislativa do Estado de SC); - Comenda do Poder Legislativo Catarinense (edição 2013); - Medalha Anita Garibaldi (Governo do Estado de SC). Mundialmente reconhecido por seu talento, o Maestro José Nilo Valle é membro da Conductor's Guild International e ocupa a Cadeira N° 37, patrono Ariano Suassuna, da Academia de Letras de Nova Trento. Seu nome consta da Enciclopédia 5.000 Outstanding Musicians of the Twentieth Century (edição ABI - American Biographical Institute), e da Enciclopédia Who is Who in Music (edição da Cambridge University, London). Não é demasiado citar que o Maestro Valle tem sido um incansável batalhador pela implantação definitiva da sinfônica catarinense, conseguindo avançar em conquistas institucionais tais como o reconhecimento da orquestra como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado de Santa Catarina (Lei 14.788 - julho/2009) e a aprovação da PEC 001-0065/ALESC/2013, que inseriu a orquestra no Artigo 173, Inciso VI da Constituição do Estado de Santa Catarina. Por curiosidade fiz uma singela entrevista com o Maestro, que segue: 1. O título de maior compositor brasileiro cabe incontestavelmente a Heitor Villa-Lobos. Foi um gênio universal de música, de produção abundante, de ideias originalíssimas, de temperamento tropical. Escreveu óperas e missas, a suíte “O descobrimento do Brasil”, sinfonias e concertos e abundante música pianística. Eu pergunto: Foi possível para a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA) realizar alguma apresentação com esses temas e óperas do ilustre Villa-Lobos? Maestro: Heitor Villa-Lobos (1887-1959) foi realmente o compositor de maior destaque da música erudita brasileira. Um dos maiores compositores nacionalistas de todos os tempos, pesquisou a fundo o nosso folclore e usou fartamente a temática da música nacional em suas composições eruditas. Villa-Lobos resgatou centenas de melodias folclóricas brasileiras, registrando as mesmas em seus volumes intitulados Canto Orfeônico, frutos de sua pesquisa. Entusiasta do ensino do canto para crianças e jovens, o maestro introduziu o ensino da música obrigatório nas escolas públicas do país, durante a presidência de Getúlio Vargas. Com o apoio do governo brasileiro, conseguiu implantar a educação musical no país, uma de suas grandes conquistas artísticas e sociais. Além da utilização da temática nacionalista, Villa-Lobos introduziu em suas composições uma gama enorme de instrumentos musicais nunca dantes usados em orquestra, especialmente no naipe da percussão. Criador prolífico, com mais de mil obras na bagagem, Heitor Villa-Lobos mostrou ao mundo o melhor da música erudita brasileira. Sua produção para piano, violão e violoncelo, assim como as séries Bachianas Brasileiras (09) e Choros (14) estão entre suas obras mais populares. A orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA) ainda não desenvolveu um programa exclusivo da música de Villa-Lobos, mas tem incluído em suas performances algumas peças soltas do repertório do grande mestre, tais como o Preludio, da Bachianas Brasileiras Nº 4, a Ária (Cantilena), das Bachianas Brasileiras Nº 5, a Tocata (o Trenzinho do Caipira), das Bachianas Brasileiras Nº 2 e a obra para solista coro e orquestra, Invocação em Defesa de Pátria. 2. Com qual número mínimo de músicos a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA) já conseguiu se apresentar, e quantos músicos são necessários para que a orquestra faça um concerto memorável? Maestro: Ao abordarmos o tema número de componentes de uma orquestra, seja ela rotulada como camerata, sinfônica ou filarmônica, será sempre necessário considerar primeiramente o tipo de repertório que a mesma se propõe a desenvolver. Isto significa dizer que o cast artístico de qualquer orquestra está atrelado aos elementos ditados pelas partituras das obras a serem incluídas nos programas de concerto. Desde a sua criação, (1.993) a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA) vem mantendo um cast artístico inspirado nos modelos instrumentais do período romântico. Com uma orquestra composta por aproximadamente setenta músicos (34 cordas, 12 madeiras, 14 metais, timpanista, 04 percussionistas, pianista, tecladista, harpista) é possível interpretar obras de pequeno, médio e grande porte do repertório erudito, abarcando obras do período barroco ao contemporâneo. Em nossas atividades, de maneira ampla, fomentamos grupos de câmara (duos, trios, quartetos, quintetos), que representam a orquestra em ocasiões especiais seja em recitais ou em entretenimentos sociais. Colocamos em ação nossa camerata, estilo barroco (04 primeiros violinos, 04 segundos violinos, 03 violas, 02 violoncelos e 01 contrabaixo), para tocar repertório dos grandes mestres do século XVII-XVIII. Em grandes concertos realizados durante temporadas anuais, inserimos obras brasileiras e do repertório universal, tocadas por um número mínimo de músicos da OSSCA, nosso naipe de 32 cordas. Também, programamos e realizamos séries clássicas anuais, Mozart e Beethoven no TAC (Teatro Álvaro de Carvalho-Fpolis), utilizando cerca de 50 músicos nas performances. Concertos memoráveis e de grande porte incluem nossa composição instrumental máxima - 70 músicos - e estão dentro das prioridades da OSSCA. A orquestra nasceu com este estigma de empreender e oferecer grandes performances musicais aos catarinenses e visitantes de nossa abençoada Santa Catarina. CONTATOS: Maestro José Nilo Valle Endereço Postal: Caixa Postal 114 CEP 99010-970, Florianópolis, SC, Brasil E-mails: maestrovalle@hotmail.com – maestronilo@gmail.com (a entrevista continua...) ______________________________Izabella Pavesi Imagem cedida pelo MAESTRO JOSÉ NILO VALLE. Ps.: Texto publicado na Revista INSIEME, em português e italiano, edição nº 265, editor Desidério Peron, julho/2021. Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 10/07/2021
Alterado em 10/08/2021 |