![]() A liberdade nas vestimentas
Durante toda a história da Humanidade as vestimentas, que são uma expressão da liberdade de cada Ser, foram se modificando. A indumentária de uma sociedade reflete o grau de liberdade ou opressão que esta pratica e aceita; portanto, cada tecido a mais sobre um corpo nos dá a ideia sublinear do tanto de liberdade que esta se permite. Invariavelmente este conceito tem a ver com as mulheres. São elas que se apresentam mais ou menos livres. Duzentos e vinte anos atrás as mulheres usavam espartilhos, muito apertados, sob longos vestidos para se apresentarem nos bailes, nas igrejas, nos cafés, enfim, na vida social daquela época. Aquela sociedade (Era Vitoriana) as subjugada e exercia um grande controle sobre suas condutas, de tal maneira que mal podiam sair de casa sem a permissão dos pais ou maridos. Só em 1901 as senhoras se livraram da peça opressora, o espartilho. Muitas décadas se passaram até que fôssemos olhadas como capazes de decidir sobre a nossa vida e nossas atitudes. Os espartilhos caíram, os cabelos começaram a serem cortados mais curtos, algumas mulheres apareceram com trajes de banho em competições olímpicas, jovens deixaram de ser maria-vai-com-as-outras e se afirmaram como boas vendedoras de produtos de beleza e por aí vai... Nesse nosso mundo ocidental tivemos um grande impacto quando um desfile de modas lançou a minissaia. Todas as manchetes estamparam Twiggy, uma jovem magérrima com grandes cílios pintados, cabelo curtíssimo e vestido mini. Que chocante!... causou furor! Eram os turbulentos anos ’70 (1970), repletos de movimentos “livres” de jovens rebeldes, avessos aos “engomadinhos” para desespero dos pais. Toda a nossa geração, sim – pois também estive no meio deles – viu-se assombrada com tantas novidades e tantas inovações. Havia um anseio tal por liberdade que hoje, 50 e poucos anos depois, a lembrança de tantas loucuras nos sacode e perturba nas noites insones. A liberdade de vestir-se ou despir-se era um jogo de sedução que a televisão, especialmente as novelas, jogavam no ar nos horários noturnos; se tínhamos a anuência dos pais podíamos assistir tais programas, porém a maioria de nós não tinha tempo e nem permissão. Fato que, aumentava intrinsecamente o desejo por liberdade. Tanto que um grupo de malucos criou o movimento hippie nos Estados Unidos, e aqui no Brasil, outro segmento da sociedade, os artistas, criaram o tropicália. Tudo girava em torno de uma ânsia frenética por vivências e experiências sensoriais novas. Os ídolos insuflavam as gentes com suas libertinagens, seus shows extravagantes estilo drogas e rock’n roll. Havia muita perversidade, sim. Hoje, décadas depois, sabemos que nos salvamos de muitos perigos e de cair em desgraça com anfetaminas; temos a consciência do quanto estivemos próximos do abismo da decadência. Invariavelmente, no colégio, meninas encurtavam a saia. As diretoras chamavam os pais das alunas e tentavam obstinadamente colocar ordem na casa, isto é, parar de vulgarizar o uniforme da escola. O que estava em jogo realmente nisso tudo? A liberdade! A estilista Coco Chanel, um ícone para todas as mulheres, “desafiou convenções e defendeu a liberdade de ser como se quer ser”. A estilista costurava com liberdade e independência. Ela viveu longos anos e imprimiu sua marca no mundo. Como pesquisadora da imigração italiana no Brasil soube de um fato curioso. Grandes enchentes assolaram o Vale do Itajaí, onde tinham se fixado famílias de italianos e tiroleses (da Áustria, naquele momento), pelos anos de 1876, 1877, em diante. É evidente que os casebres foram construídos às margens dos rios, porque tudo era floresta, tudo tinha que desmatar e tudo faltava. Essas pessoas que chegaram em navios de carga, maltrapilhos e exaustos, vieram atrás de Terras e Liberdade! E após as primeiras enchentes desastrosas, insanas, avassaladoras, restou naquela sociedade conservadora muito pouco pano para fazer vestidos longos usados naquela época. Qual a solução? Encurtar os vestidos! Remendar as roupas masculinas e as femininas. As mulheres passaram a se esconder em casa o maior tempo possível, remendando, inovando, tentando de todas as maneiras cobrirem o corpo maltratado. Inacreditável que, além de tantas agruras nos primeiros tempos, tantos perrengues para achar comida no meio da floresta, havia a ausência de um armazém que providenciasse artigos de urgência como tecidos. Aquela Vila onde aportaram os recém-chegados imigrantes europeus era desprovida de coisas básicas como peças de roupas e chapéus naqueles primeiros anos. Que luta pela sobrevivência! Tiveram que remar com as canoas atrás de mantimentos e tecidos no centro de Brusque longos quilômetros do Distrito de Porto Franco. Que tarefa árdua até encontrar algum tecido de linho ou fios para o tear! A busca da liberdade em terras brasileiras custou vidas, aniquilou sonhos de tantas mulheres que seguiam sob os olhares inquisidores dos patriarcas, e enfim, uma nova sociedade se reestruturou em meio às florestas tupiniquins. Para finalizar, digo-vos que continuamos desejosos de liberdade, pois esta todo dia está escapando pelos dedos das mãos como finos grãos valiosos. E nós, sequiosas por alçar voos... pois, logo depois da esquina a prisão das ideias emperra o caminho. Todo dia, ao nos vestirmos já de manhã cedo nos permitimos sonhar com olhares amorosos. E você, se veste de maneira ousada ou conservadora?... você já se soltou das amarras do seu próprio inconsciente?
Izabella Pavesi imagem: internet
P.S. esta crônica recebeu Menção Honrosa no Concurso A.C.I.M.A. - Ass. Intl. Mandala de Milão em 2025 e publicada na Antologia LIBERDADE & LIBERTÀ da mesma ACIMA - apresentada no Salão do Livro de Turim / 2025 no Stand ACIMA. Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 23/05/2025
Alterado em 26/05/2025 Comentários
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